Raquel Landim é repórter especial da Folha. Escreve sobre economia, negócios e comércio exterior. Tem especialização em negociações internacionais. Escreve às sextas-feiras.
Os golpes contra a democracia brasileira
18/03/2016 02h00
Já se vão 30 anos desde que acabou a ditadura. O país viveu uma década perdida na economia, passou por um impeachment, estabilizou a hiperinflação, e assistiu a chegada do primeiro operário ao poder. Mas, nesse período, a democracia nunca esteve tão em xeque como agora. Investigados pela Operação Lava Jato, Lula, Aécio, Temer, Renan, Cunha - cada um a seu modo - procuram dar um "golpe" num governo frágil, incompetente e sob suspeita de caixa 2 em sua campanha. Vale ressaltar que esses políticos representam o partido do governo (PT), sua base de sustentação (PMDB) e a oposição (PSDB). Primeiro, o "golpe" de Lula. Dilma empossou nesta quinta-feira (17) seu antecessor na Casa Civil, para que ele ganhe foro privilegiado, e como última cartada para salvar o governo. Se conseguir se manter no cargo, apesar da resistência da opinião pública, Lula vai negociar com o Congresso, trazer ministros e, pelos menos retoricamente, alterar a política econômica. Sua presença no Planalto esvazia o papel de Dilma, que o chama de "presidente" e "senhor". Juridicamente pode não ser "golpe", mas, na prática, o poder está sendo transferido das mãos de quem teve votos para quem não teve. Com Lula, o PT tenta barrar a iniciativa do vice-presidente Michel Temer (PMDB), do ex-governador Aécio Neves (PSDB) e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que também queriam transformar Dilma na "rainha da Inglaterra" com o semiparlamentarismo. Essa jabuticaba é "golpe" porque a Constituição não prevê esse tipo de regime.E ainda nesta quinta-feira (17), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), deu prosseguimento ao processo de impeachment de Dilma. Impeachment não é golpe, mas os motivos do deputado e do PMDB, que querem derrubar o governo na esperança de serem esquecidos pela Lava Jato, não são nada nobres. Os três poderes da República estão em xeque. A fragilidade de Dilma não é só resultado dos ataques que recebe, mas principalmente de realizar um dos governos mais ineptos política e economicamente dos últimos anos, comparado apenas a Collor. A credibilidade do Congresso está em frangalhos com tantos políticos envolvidos na Lava Jato, que, mesmo assim, seguem em seus cargos, tomando decisões quando o conflito de interesse é evidente. E, finalmente, o Judiciário começa a enveredar por um caminho perigoso. Ao agradecer o apoio nas manifestações do dia 13, o juiz Sérgio Moro entrou na luta política e colocou sua isenção em risco. A Operação Lava Jato é um marco no combate à corrupção no país, mas o papel de Moro é julgar com isenção e cabe ao Ministério Público investigar todos os envolvidos no petrolão, independentemente de suas ligações partidárias. Com a crise política, a recessão se agravando, o desemprego subindo e a popularidade no chão, Dilma não consegue governar e o setor privado perdeu as esperanças de que ela tire o país do buraco em que o meteu. Mas as poucas lideranças políticas que sobraram precisam conduzir o impeachment ou a cassação de chapa - opções previstas na Constituição - com calma e provas concretas. A população insatisfeita também não deve deixar de pressionar, mas não pode perder a racionalidade e se deixar levar por soluções golpistas ou até coisas piores para se livrar do PT. Ruim com os políticos, pior sem eles. Já parecemos de volta aos anos 80, mas podemos evitar um retrocesso ainda maior.Meus apontamentos serão sucintos, porém muitos. Tendo lido o texto acima, pude organizar os fatos da seguinte forma:
- O impeachment não é golpe nem nunca foi. É simplesmente uma avaliação da legalidade do governo. Se ocorrer, o processo será votado e julgado. O processo em si não significa que a presidente deva deixar o poder, mas sim seu resultado deve dizer se sim ou não.
- Aécio Neves, Renan Calheiros e Eduardo Cunha são tão culpados, talvez mais e talvez menos, quanto Lula. Assim como o ex-presidente deve ser preso, estes outros também devem, e devem ser caçados com a mesma veemencia com que o outro o é.
- O único motivo para a nomeação de Lula às pressas para a Casa Civil é de escapar das mãos de Sérgio Moro, para obter foro privilegiado. Não adianta dizer que o STF é mais rigoroso, que não permite recurso ou qualquer balela dessas... o fato é que o Juiz do Supremo é subordinado direto da Presidente e pode ser retirado do cargo no momento em que ela desejar.
- Sérgio Moro está mostrando que não está sendo parcial. Até o momento não há o que condene sua imagem mais do que simplesmente ter, num momento de derrota (nomeação de Lula) exposto material confidencial e restrito à investigação (gravação do grampo) para a população e a mídia. Ele está claramente, entretanto, buscando apoio populacional, pois apoio político ele não tem nenhum, já que ele está julgando tanto situação quanto oposição.
- Os grampos evidenciam que a maior preocupação do governo no atual momento é evitar a prisão, e porque não citar, evitar as investigações, acerca do ex-presidente Lula. Evitar investigações pode usar o argumento de que Moro possa não estar sendo imparcial, mas é mais certo de que Lula quer ser julgado pelo Supremo, que é um Pet da presidente.
- Dilma Rousseff, que nunca esteve preparada de fato para governar este país, tentou ser uma rainha, e agora que ela fez muita merda e não tem apoio do senado e nem da câmara, está sofrendo um meio golpe, visto que o cargo de Ministro Chefe da Casa Civil é visado como seria o de Primeiro Ministro. De fato, como Dilma não tem apoio de ninguém, quem subir a Casa Civil é quem governará o país.
- Dilma é culpada por Crime de Responsabilidade, e deve perder o cargo por isso.
- A tendência quando isso ocorrer não é melhorar.
- Michel Temmer deveria cair junto com ela.
- Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Lula... todos devem cair e ser presos.
- Aécio deve ser julgado e, se culpado, preso.
- A manifestação do Domingo 13/03/2016 foi a maior já vista no Brasil, ultrapassando a dos Caras Pintadas que pediam o impeachment de Collor. Se o problema for apoio popular, está resolvido.
- As manifestações em favor da presidente e da manutenção do PT no poder são menores, e por mais que a ultima não tenha sido flagrada, todas as anteriores foram comprovadamente financiadas. Sim, pessoas foram pagas para sair de casa vestindo vermelho.
- O caos em que se encontra este país não deve melhorar com o impeachment.
- Provavelmente nem as eleições de 2018 melhorem muita coisa, visto que dos peixes grandes, os unicos que parecem não ter culpa de nada são Marina Silva e Jair Bolsonaro. A primeira é radical para a esquerda, que o Brasil já não aguenta mais, e o segundo é tido como um conservador preconceituoso.
- Perdemos a chance de eleger Plínio de Arruda, agora ele já se foi. O PSOL morreu depois disso, voltou a ser o PT amarelo.
- PCB, PCdoB, PSTU, PCO, PSOL e afins farão mais do mesmo que o PT fez. Se fizerem algo diferente será buscar a reforma agrária, forçar o socialismo ou as duas coisas. Em ambos os casos, mais um presidente "se suicidará", dessa vez com 8 tiros nas costas. Sabemos que as oligarquias rurais e os coronéis continuam mandando no país. Basta ligar a tv Camara ou a tv Senado e você vai ver eles.
- O império não volta mais, o que é ruim. Um imperador não teria o rabo preso com quem pagasse sua campanha política, não precisaria roubar deus e o mundo antes que seu mandato acabasse e todas as suas mordomias estariam devidamente sendo pagas pelo governo. Um imperador, sendo assim, poderia ser incorruptível, pois isso não o interessaria. Um imperador poderia dissolver a câmara e o senado, bem como demitir a presidente, e convocar novas eleições se assim achasse por bem. Que bom seria ter um imperador!
Parabéns pelos posts sobre LOTRO. Recomendo que foque em LOTRO. Quanto ao cenário político brasileiro a única solução é uma reforma política com participação popular. Sem essa reforma, impeachment, reforma agrária, novas eleições, CPI's, caralho a 4, etc SERÃO COMPLETAMENTE INÚTEIS.
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